sábado, 21 de junho de 2008

Douro Alliance - Uma excelente crónica de Jorge Laiginhas (Jornal de Notícias - 20/06/2008)

Realidade mais séria que Portugal tem´

Vila Real-Régua-Lamego é uma cidade de braços abertos. Escancarados. Ou, se quisermos, uma grande avenida com muitas saídas. Saídas para o desenvolvimento. E saídas para o envolvimento. Enquanto há gente na região do Douro com quem (des)envolver!

Douro Alliance – assim a baptizaram os pais com a aprovação dos padrinhos – é uma cidade imaginária que, se for bem estrumada e regada, pode tornar-se numa cidade com gente dentro. Gente feliz. A semente foi lançada à terra. Em boa terra. Abençoada por um rio, Douro, que nos faz acreditar. No sonho. Sonhar é fazer a hora do parto.

A cidade Douro Alliance é um exemplo a seguir por outros municípios do interior. Quiçá a única forma de evitar que este país – um tombadoiro tombado para o mar – não se precipite para um afoganço colectivo na espuma do efémero. Haja esperança!

Soube por este jornal – quem lê o JN sabe das coisas, sejam elas boas, más ou assim-assim – que as “lojas a retalho estão a fechar ao ritmo de uma por dia no distrito Viseu. Comerciantes soçobram à crise mais violenta dos últimos 50 anos.”

O comércio tradicional – no distrito de Viseu e, verdade verdade, em todo o país – está de nariz à porta. E está de nariz à porta porque o povo vai, como sempre foi, em assobios. Convenhamos, hoje como ontem, quem não se deixa levar por um assobio meloso? E, nos dias do agora, quem assobia que nem marantéu é o shopping. Seja em Viseu, Braga ou Vila Real. É chique alinhar pelo assobio do shopping! Esta é que é a verdade. É o povo que vai aos centros comerciais e não os centros comerciais que vão a casa do povo. Não obstante – sou homem de fé – creio que o pequeno comércio irá sobreviver à crise que lhe vem varrendo a clientela da porta. Como? Com imaginação.

No próximo dia 14 de Dezembro – tarde é o que nunca chega e o que chega nunca é tarde – o Museu do Douro vai arreganhar-se à região, e ao mundo, em casa própria. Como aperitivo para o arreganhanço que aí vem, merece visita demorada a Exposição Permanente «Memória da Terra do Vinho onde se apresenta a Região Demarcada do Douro e a sua história. No Edifico Solar do Vinho do Porto, Rua Ferreirinha, na cidade do Peso da Régua.Composta por vários núcleos representativos da Região Demarcada do Douro, nomeadamente «o Território», «a História», «a Vinha», «o Vinho», «do Douro para o Mundo» e «Imagens do Vinho» pretende oferecer – e oferece – ao visitante um contacto prévio com a Região Demarcada do Douro. Esta exposição, pensada a partir da exposição Programática para o Museu do Douro «Jardins Suspensos», serve de ponto de partida para uma visita à região.Miguel Torga escreveu que o Douro, rio e região, é a realidade mais séria que Portugal tem. Sem dúvida. O Museu do Douro é já a alma desta séria realidade. Ponto.

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Lamego